IX Seminário


IX SEMINÁRIO ARTE, CULTURA E FOTOGRAFIA
Imagens: Práticas e Metodologias
15 a 19 de Setembro de 2014


Organização: Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa em Arte e Fotografia do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Coordenador: Prof. Dr. Domingos Tadeu Chiarelli

Horário: 13:30h às 18h00
Local: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - Nova Sede
Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, São Paulo - SP


Programação
Dia 15 de Setembro - Comunicações: 13h30 às 15h30

Arquivo e montagem: a poética das imagens e suas constelações sobreviventes
Fabiana Bruno (Unicamp)
O trabalho a ser apresentado propõe reflexões de cunho metodológico em torno da imagem, tomando como ponto de partida experiências de pesquisas desenvolvidas em torno das fotografias, em especial daquelas acumuladas em arquivos, na perspectiva de se constituírem caminhos para o pensamento sobre a montagem como um modo de conhecimento e questionamento no campo das ciências humanas, em especial a antropologia. A apresentação fundamenta-se na questão do ato de abrir um arquivo - as possibilidades de encontros e descobertas, a partir do reabrir armários, caixas e defrontar-se com elas, as imagens – e ‘desdobrar’ as imagens. À luz de contribuições de autores como Georges Didi-Huberman e Aby Warburg, os estudos desenvolvidos se pretendem refletir como um movimento metodológico de pesquisa, que pensa as imagens não somente como um território reservado, que nos remete a um autor, a uma data, a uma técnica, mas as encaram como uma montagem constituída de elementos heterogêneos e de tempos sucessivos. Nestes receptáculos de sobrevivências, tomamos o trabalho das imagens, da memória e do imaginário humano (individual e coletivo) e nos lançamos ao desafio de indagar: O que a imagem nos permite conhecer? Como devolver conhecimento a partir dos arquivos? O que segregam e segredam os arquivos? Como experimentar a imagem como conhecimento em nossa cultura? A partir das experiências e resultados de pesquisas apresentaremos os caminhos de uma investigação antropológica-poética realizada em nosso trabalho procurando evidenciar questões relacionadas a como tomar a imagem, em especial a fotografia, como lugar de memória e de conhecimento. Se a imagem carrega uma história e suas memórias (com suas permanências, sobrevivências e mudanças), as imagens escolhidas e montadas deverão revelar, a partir de um experimento de montagem, como uma forma de exposição do pensamento e da imaginação. Nas constelações, o nosso feito experimental para ver e fazer ver o que imagem, as montagens nos revelam sobre os homens, o tempo, a memória e a imaginação. Os referidos estudos são parte dos resultados obtidos por ocasião da pesquisa do doutoramento, Fotobiografia: Por uma Metodologia da Estética em Antropologia (IA-Multimeios-UNICAMP/FAPESP, sob a orientação do Prof. Dr. Etienne Samain) e de pós-doutoramento Imagens Desdobradas. Ante a abertura do acervo fotográfico indígena de Etienne Samain (ECA-USP/FAPESP, sob a supervisão do Prof. Dr. Eduardo Peñuela) e, também da pesquisa em curso, Arqueologias da imagem: a poética do abandono nas operações de (re)montagem dos álbuns de família (Departamento de Antropologia IFCH-UNICAMP/CAPES, sob a supervisão da Profa. Dra. Maria Suely Kofes).

Fabiana Bruno é mestre e doutora em Multimeios pelo Instituto de Arte-Unicamp (2003-2009) e pós-doutora pela Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP). É pesquisadora do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, onde ministra cursos e desenvolve projeto de pesquisa apoiado pela Capes.  A antropologia da imagem e a poética constituem os eixos de seus interesses de trabalho e seus recentes estudos evocam questões epistemológicas sobre o arquivo, suas constelações e confabulações, berços de pensamentos que abrigam as palavras, as narrativas de vidas, as fotobiografias e os álbuns de família. 



Do conteúdo visual para a especificidade da foto: Vincenzo Pastore na tradição da fotografia de rua na Itália (1880-1910)
Fabiana Marcelli da Silva Beltramim (USP)
A série fotográfica produzida por Vincenzo Pastore, na São Paulo de 1910, ajuda a reconstituir uma importante dimensão da vida social no período pós-abolição, marcado pela forte presença da população negra e por seu intenso convívio com a primeira geração de muitos imigrantes e seus descendentes, envolvidos nas práticas de serviços essenciais ao abastecimento da cidade. O trabalho emblemático deste fotógrafo, que também retratou os arredores da área central, revela aspectos das práticas errantes e de toda mobilidade que permeiam as relações sociais daqueles que viviam de pequenos expedientes, de um trabalho instável e temporário, mas fundamental para se ganhar a vida. A produção visual de Pastore pode ser ainda compreendida a luz de um repertório visual oitocentista produzido ao sul da Itália; repertório historicamente adquirido não como uma influência direta em seu trabalho, mas como uma cultura visual compartilhada de modo dinâmico, construindo signos visuais por meio da tradição de uma visualidade que relacionava sujeitos sociais em suas atividades cotidianas de improvisação pela sobrevivência. Neste ato de percepção, inerente à observação do historiador –intérprete, toma-se tais imagens a partir de uma abordagem pela história social e por um campo teórico que permite a sondagem desse cotidiano representado, tentando-se garantir a “relação dialética permanente entre documento e problemática histórica”.


Fabiana Marcelli da Silva Beltramim é doutoranda em História Social pela Universidade de São Paulo - USP. Possui mestrado em HISTÓRIA SOCIAL pela PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA - PUC-SP (2009); especialização em HISTÓRIA, SOCIEDADE E CULTURA também pela PUC-SP, (2005); graduação em JORNALISMO pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Libero (1997), graduação em LICENCIATURA EM HISTÓRIA; Tem experiência na área de História, comunicação visual, fotojornalismo e pesquisas em História com ênfase principalmente nos seguintes temas: fotografia, escravidão, cultura visual e relações de gênero.


15 de Setembro - Conferência: 17h00
Fui canibalizada por uma artista
Lilia Schwarcz (USP)
O objetivo dessa palestra é recuperar impasses metodológicos e teóricos experimentados durante o meu longo período de convivência, de cinco anos, ao lado da artista Adriana Varejão. O processo criativo de Varejão é sempre norteado por referências históricas, as quais são devidamente relidas e traduzidas em novas obras e trabalhos. No entanto, longe de se desenvolver uma dinâmica que opôs, de maneira mecânica e fácil, sujeito a objeto de reflexão, nesse caso deu-se um resultado quase metonímico e exemplar, dos recursos artísticos da artista: a produção de um livro — “Pérola imperfeita” (2014) — e de uma nova série — “Tintas polvo” (2013/ 2014). O que se verá é que longe da exterioridade entre crítica e arte, história e produção criativa, nesse caso a teoria virou arte, e não o contrário. A intenção maior é, pois, menos fazer uma “teoria da imagem”, mas antes devolver “imagem à teoria”.

Lilia Schwarcz possui graduação em História pela Universidade de São Paulo (1980), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (1986), doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (1993), livre-docência em Antropologia Social pela USP (1998). Atualmente é professora titular da Universidade de São Paulo (2005), editora da Companhia das Letras (onde coordena coleções de não ficção), membro do advisory group - Harvard University, membro do Conselho Científico do Instituto de Estudos Avançados da UFMG, sócia do IHGB, membro da conselho da Revista da USP, da Revista Etnográfica (Lisboa) e da revista Penélope (Lisboa), coordenadora do GT/ Anpocs de Pensamento Social, de 2007 a 2009. Foi professora visitante e pesquisadora nas universidades de Leiden, Oxford, Brown, Columbia (Tinker Professor), Ecole des Hautes Etudes en Science Sociales (2013) e Princeton, onde é Global Scholar até o ano de 2018. Atuou como curadora de uma série de exposições que aliam história, artes e antropologia. Recebeu Bolsa Guggenheim (2006/ 7); medalha Júlio Ribeiro (por destaque cultural e etnográfico) outorgada pela Academia Brasileira de Letras em 2008; a comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico em 2010, foi membro do Advisory group - Harvard University (até 2012), e teve sua palestra selecionada como "John H Parry Lecture at Harvard of 2010". Dirigiu a coleção "História do Brasil Nação" (Objetiva/ Mapfre) em seis volumes. Tem experiência na área de Antropologia e História, com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasileiras, Marcadores da Diferença e História do Império brasileiro, dedicando-se principalmente aos seguintes temas: Brasil monárquico, escravidão, construções simbólicas, história da antropologia, etnicidade, construções imagéticas e identidade social. É pesquisadora 1A do CNPq desde 2010. 


16 de Setembro - Comunicações: 13h30 às 15h30

Uma prática metodológica para a crítica: entre a Arte Feminista e o Dicionário do Lar
Silvia Amélia Nogueira de Souza (UFMG)
Destacada a importância da pesquisa de fontes primárias sobre a história da mulher e a arte feminista no Brasil, objetiva-se o estudo inédito do “Dicionário do Lar”, manual escrito para mulheres nos anos 1950-60 no Brasil, do qual elenca-se os atributos da mulher modelo, para orientar a crítica da arte feminista. Compreende-se que a interdependência entre arte e vida é argumento central na produção da arte feminista dos anos 1970. Como estratégia de empoderamento e ressignificação do feminino, encontramos o corpo generificado utilizado como suporte e meio para a realização de obras de arte. Por via da explanação sobre as obras videográficas Gestures (1974) de Hannah Wilke e Semiotics of the kitchen (1975) de Martha Rosler, realizou-se o estudo comparado com o modelo construído pelo Dicionário do Lar. Pela quantificação e classificação de seus verbetes, tornou-se possível definir o horizonte de ocupação da mulher dona de casa. A seleção das obras analisadas acompanhou os dados, e apontou os assuntos mais citados: o ato de cozinhar e a manutenção da beleza vigoram como primeiro e terceiro atributo, respectivamente. A pesquisa demonstra que, entre o estranhamento e a identificação, a arte feminista se serve dos mesmos modelos apresentados no dicionário, para justamente criticá-los. Conclui-se que a manutenção da beleza se sobressai aos demais tópicos, como um forte atributo normativo para as mulheres, alimentada pelo poder aquisitivo adquirido, pela grande oferta de produtos direcionados à elas e pelo apelo da grande mídia.


Silvia Amélia Nogueira de Souza é artista e professora efetiva de Arte - Audiovisual do Centro Pedagógico, UFMG com pós-graduação latosensu em Arte e Contemporaneidade pela Escola Guignarg da UEMG (2004) e mestrado na Escola de Belas Artes da UFMG (2011). Inicia suas pesquisas sobre intervenção e memória urbana em 2002, com monografia desenvolvida sobre o assunto. Desde então realizou inúmeras exposições e ações em espaços públicos e institucionais, com a assinatura Sylvia Amélia. Foi contemplada pelo Projeto Bolsa Pampulha, do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, em 2007-2008. Em 2010 inicia suas pesquisas sobre "Arte, domesticidade e gênero", desenvolvendo seu mestrado sobre o assunto. Sua pesquisa constrói relações entre a arte feminista dos anos 1970 e o "Dicionário do Lar", manual para mulheres dos anos 1950-60 no Brasil, para orientar procedimentos de abordagem da crítica feminista contemporânea. É graduada em Educação Artística pela Escola Guignard - UEMG (2001). Desde 1994 ministra cursos e oficinas de arte para crianças, jovens e adultos, em comunidades rurais e urbanas, através de festivais de cultura, projetos sociais e educacionais. Desenvolveu metodologias de ensino e aprendizagem nas áreas de: sensibilização artística, educação patrimonial, artes gráficas, quadrinhos, intervenção urbana, arte contemporânea e cartografias cotidianas. Entre 2009 e 2012 foi professora de História de Arte e Tecnologia na Escola de Arte e Tecnologia OI KABUM! de Belo Horizonte. Desde 1995 trabalha com artes gráficas nas áreas de histórias em quadrinhos, ilustração e animação. Ilustrou livros, revistas e publicou 11 histórias em quadrinhos na Revista Graffiti, 76% quadrinhos, editada em Belo Horizonte. Realizou projetos de criação de exposições e curadoria nas áreas de educação patrimonial, antropologia urbana e arte contemporânea. Atualmente coordena o Festival de Video do Centro Pedagógico, na UFMG e desenvolve pesquisa sobre Procedimentos e Metodologias de Ensino do Audiovisual no Ensino Fundamental, na mesma instituição. 


Cópia e paródia: práticas de si na arte contemporânea de mulheres e crítica feminista à História da Arte
Luana Saturnino Tvardovskas (Unicamp)
As concepções de originalidade e de genialidade embasaram grande parte da literatura sobre arte no século XX, numa estratégia que afastou as mulheres do espaço de reconhecimento e valor da arte. Mais do que denunciar as causas dessa exclusão ou mesmo incorporar nomes ao inventário da disciplina, críticas feministas como Griselda Pollock refletem sobre as configurações simbólicas, históricas e políticas que constituíram, no mundo moderno, uma separação estrutural entre o feminino e a arte. Assim, essa apresentação pretende discutir algumas práticas presentes na produção visual de artistas contemporâneas como Nicola Costantino (Argentina), Cindy Sherman (EUA) e Cristina Salgado (Brasil), pensando-as como intervenções críticas nos discursos tradicionais sobre a História da Arte. A cópia e a paródia – enquanto escolhas políticas, éticas e estéticas – serão problematizadas como táticas de desconstrução de gênero e, ao mesmo tempo, como denúncias de uma discursividade hegemônica dessa disciplina. Pretende-se, dessa forma, pensá-las a partir de Michel Foucault como práticas de si, na medida em que permitem a elaboração de subjetividades femininas críticas dos estereótipos misóginos da cultura e afirmativas da liberdade.

Luana Saturnino Tvardovskas é doutora em História Cultural com a tese Dramatização dos corpos: arte contemporânea de mulheres no Brasil e na Argentina, pela UNICAMP, Campinas-SP, onde também se graduou e realizou seu mestrado, sob orientação da Dra. Margareth Rago. É autora da dissertação Figurações feministas na arte contemporânea: Márcia X., Fernanda Magalhães e Rosângela Rennó, além de capítulos de livros e artigos discutindo a produção de mulheres artistas, teorias feministas e a constituição de subjetividades. Tem experiência na área de História contemporânea do Brasil e Argentina, com ênfase em estudos culturais e arte, atuando principalmente nos seguintes temas: corpo, gênero, arte contemporânea, feminismo, subjetividade e relações de poder. Atualmente, é pós-doutoranda no IFCH/UNICAMP onde desenvolve a pesquisa Narrativas avessas: A história do Brasil na arte contemporânea de mulheres (Fapesp).


16 de Setembro - Depoimento: 16h00
O fotográfico em minha produção
Dora Longo Bahia (USP)
A artista paulistana Dora Longo Bahia apresentará parte de sua produção, destacando a relação que seu trabalho mantém com a fotografia. Em muitas de suas obras, Imagens apropriadas dos meios de comunicação, sobretudo aquelas ligadas à violência social urbana, são transformadas, sobre diferentes suportes, como a pintura, vídeo e áudio. O eixo da apresentação será a série Desastres da Guerra (2012), composta por 80 pinturas sobre papel pergaminho, carregadas de preto, quase monocromáticas. As pinturas são baseadas em fotografias de guerra mencionadas por Susan Sontag em seu livro Diante da dor dos outros, onde a autora aborda o uso das imagens de violência pelos meios de comunicação. As pinturas também aludem à série de 80 gravuras de Francisco Goya, Los Desastres de la Guerra (1810-1815), que retratam o massacre decorrente da invasão da Espanha pela França napoleônica no século XIX. Neste trabalho, por meio da pintura, a artista esvazia as fronteiras que separam os contextos das fotografias das quais se apropria, e evidencia as ambíguas relação que travamos com as imagens de violência.

Dora Longo Bahia possui graduação em Licenciatura em Educação Artística pela Fundação Armando Álvares Penteado (1987) e doutorado em Artes pela Universidade de São Paulo (2010). Atualmente é professora do curso de Artes Visuais na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Expôs seu trabalho na XXVIII Bienal de São Paulo e na VI Bienal de Havana, Cuba, além de países como Holanda, França, Cuba, Venezuela, Africa do Sul, Índia, Bélgica e Suíça. Em 2010 recebeu o Prêmio CAPES de Tese na área de Artes e Música e em 2008, o prêmio Cifo, da Cisneros Fontanals Art Foundation. Atua na área de artes com enfoque especial em pintura, fotografia vídeo e áudio. 


17 de Setembro - Comunicações: 13h30 às 15h30

Quando o gênero é a armadilha da arte: Michel Journiac, o corpo travesti(do) e o alter-retrato fotográfico. 
Vitor Grunvald (USP)
Michel Journiac foi um artista francês considerado como um dos fundadores da arte corporal na França no final da década de 1960 e início de 1970. Para ele, na arte, o problema não é o belo, mas a vida experimentada através do “corpo carne e sangue”. No diálogo com autores da literatura, ciências humanas e psicanálise, esse corpo aparece como epicentro da convulsão e da revolução não apenas artística, mas também social e política. Segundo Journiac, a arte corporal tem como inferência um corpo que se representa ao invés de ser representado. Contudo, ele enfatiza que tecnologias de representação como o vídeo e especialmente a fotografia aparecem como as únicas capazes de promover a difusão e o acesso posterior a esse “Corpo-Presença”. Essa ênfase em imagens técnicas acabou por gerar uma série de trabalhos cujo principal vetor é o retrato fotográfico que passa, então, a ser um dos principais elementos de seu agenciamento artístico. Mas se o auto-retrato é uma espécie apresentação de si, proponho, nessa reflexão, que o que Journiac realizou foram alter-retratos. Retratos de si como outro. Retratos que, a partir da inclusão de questões relativas ao gênero e à sexualidade e da estratégia do travestimento, desafiam a própria natureza do retrato fotográfico como espécie de espelho do real através do qual o Eu se dá a conhecer e se imortaliza.

Vitor Grunvald possui graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2005), com período de intercâmbio em Antropologia na Universidad Autonoma de Madrid em 2003. Realizou Mestrado em Antropologia Social no Museu Nacional/UFRJ, concluído em 2009, sob orientação do Prof. Márcio Goldman. Em 2011, inicia o Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP) com a Prof. Sylvia Caiuby Novaes e desenvolve parte de sua pesquisa no Departamento de História de Arte e Estudos da Comunicação na McGill University, Canadá, sob orientação da Prof. Amelia Jones. Tem experiência e interesse nos campos da Antropologia Visual, Antropologia da Performance, da Arte, do Corpo, do Gênero e da Sexualidade e suas reflexões giram em torno (1) da maneira como imagem e corpo são operacionalizados nas relações sociais contemporâneas; (2) de questões relacionadas à teoria antropológica e sua relação com outros campos do saber acadêmico que pensam a imagem e as artes; (3) dos problemas relacionados à práticas identitárias e de subjetivação; (4) deslocamentos sofridos pela vivência do gênero e da sexualidade, em especial àqueles relacionados à transgeneridade.


Paradigmas do retrato fotográfico: técnica, estética e cultura
Aline Soares Lima (Universidade do Minho, Portugal)
Como nos diz Jean-Luc Nancy (2000), a definição de retrato como « a representação de uma pessoa segundo ela mesma, é tão simples quanto correta, mas também insuficiente ». Incontestável, no entanto, é o fato de que o retrato é uma composição que se organiza em torno da figura humana.
Desde a invenção do daguerreótipo, em 1839, a fotografia assumiu, progressivamente, a função social de representação do sujeito, ainda que, a despeito de seus aspectos técnicos singulares, tenha seguido, em boa medida, os cânones do retrato pictórico. O desenvolvimento dos procedimentos técnicos da fotografia possibilitou a popularização não apenas do direito de representação do sujeito, antes restrito à aristocracia, como também do processo de produção das imagens em si, provocando uma mudança no regime do olhar e da cultura visual retratística. Da primeira metade do século XIX até os dias atuais, o retrato fotográfico passou por diferentes usos e funções sociais, atendendo, muitas vezes, a modismos. Contudo, mantém aquilo que o define enquanto gênero: a presença da figura humana como assunto principal. Com base neste contexto, proponho caracterizar, de modo sistemático, aspectos estéticos, técnicos e socioculturais presentes em três diferentes fases da fotografia, e que acabaram por dar origem a certos paradigmas do retrato fotográfico: a fase dos cartes de visite, dos autômatos analógicos, e dos snapshots digitais. O olhar lançado sobre o tema dá ênfase ao retrato fotográfico doméstico, e está embasado pelos estudos da comunicação e da cultura visual.

Aline Soares Lima é doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade - CECS, e bolseira de investigação da Fundação Calouste Gullbenkian. 


17 de Setembro - Conferência: 16h00
A teoria queer: potencialidades metodológicas para pensar a arte e suas conexões com a fotografia
Alexandre Santos (UFRGS)
A palavra queer, que é sinônimo de estranho, lida com situações que se apresentam em zonas de fronteira e relaciona-se, portanto, àquelas manifestações culturais que fogem às lógicas simplistas e às rotulações conformadas à tradição do pensamento científico moderno e seus tentáculos direcionados às práticas cotidianas. Nesta medida, o estatuto do queer é incerto, volátil e escorregadio. Influenciados pelo revisionismo do pensamento hegeliano e pelo pós-estruturalismo, os estudos acadêmicos responsáveis pelo desenvolvimento da chamada teoria queer se voltaram principalmente para o corpo e suas tensões culturais: o questionamento do determinismo biológico binário e seus desdobramentos nas respectivas “performatividades” de gênero. Entretanto, a teoria queer é bastante ampla ao abarcar em seu escopo de interesse todas as situações culturais consideradas à margem. Ao olharmos para a história da arte sob uma perspectiva relativamente recente, pelo menos desde as vanguardas modernas percebe-se um direcionamento voltado para a preocupação com a alteridade, aspecto que se acentua na contemporaneidade artística e sua sensibilidade à vida do homem comum, bem como às mudanças culturais e filosóficas que conformaram a pós-modernidade. Esta comunicação propõe-se ao desafio de pensar sobre a aplicabilidade da teoria queer como metodologia relacionada à fotografia e seus embates como linguagem cada vez mais vinculada à arte.

Alexandre Santos é graduado em História pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS (1990). Tem Mestrado (1997) e Doutorado (2006) em Artes Visuais, junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - PPGAV/UFRGS, com ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte. Realizou estágio doutoral (2003-2004) junto à Université de Paris III Cinéma et Audiovisuel - (Sorbonne Nouvelle, Paris, França), sob orientação do Prof. Dr. Philippe Dubois. É autor da tese, ainda inédita, A fotografia como escrita pessoal: Alair Gomes e a melancolia do corpo-outro. É Professor Adjunto IV, lotado no Departamento de Artes Visuais (DAV) do Instituto de Artes da UFRGS desde 2007, atuando nos seguintes cursos: Bacharelado em História da Arte, Bacharelado em Artes Visuais, Licenciatura em Artes Visuais, e no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Ministra as disciplinas Seminários de História da Arte Contemporânea, História da Arte no Brasil IV (Arte Contemporânea no Brasil), Arte e Imagem e História da Fotografia. No PPGAV ministra a disciplina Seminário de Arte e Fotografia, onde também é orientador de mestrado e doutorado. É líder do Grupo de Pesquisa do CNPq A imagem na arte e cultura desde a modernidade. Desenvolve projeto de pesquisa envolvendo a presença da fotografia na modernidade e contemporaneidade artísticas, com especial interesse pela questão das micronarrativas e da autorreferencialidade nas poéticas que envolvem a imagem fotográfica. Organizou os livros: A fotografia nos processos artísticos contemporâneos. Porto Alegre: Editora da UFRGS/SMC, 2002; Alair Gomes: um voyeur natural. Porto Alegre: SMC, 2008 e Imagens: arte e cultura. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012. Participou de diversos capítulos de livros e tem artigos em periódicos e anais de eventos, além de textos em catálogos de exposições e revistas culturais. Atua também como crítico de arte e curador independente. É membro do Comitê Brasileiro de História da Arte - CBHA, da Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA, da Associação Internacional de Críticos de Arte - AICA e da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas – ANPAP.


18 de Setembro - Comunicações:  13h30 às 15h30

Elaborações: entre poéticas artísticas e construções de memória
Vivian Palma Braga (USP)
Em um momento histórico de redemocratização de certos países que durante muitos anos estiveram sob Estados de exceção, dos quais as ditaduras latino-americanas são exemplos basais, observam-se constantes tentativas de reorganização das fraturas identitárias decorrentes desses períodos. Concomitantemente, assiste-se um advento da temática da memória no campo das artes. Essa comunicação versa-se sobre uma hipótese de intersecção entre esse momento artístico e outro, essencialmente político, de reconstrução de um Estado de direito, buscando-se pensar algumas produções artísticas contemporâneas como espaços para elaborações de memórias, individuais e coletivas a respeito de Estados de exceção. Para tanto, propõe-se argumentar alguns trabalhos circundantes desde meados dos anos 1990 como possíveis experiências de reestruturação de identidades sociais que outrora foram deflagradas, justamente por serem compreendidas como exceções. Esse percurso discursivo é operado a partir de um olhar crítico sobre dois trabalhos de arte específicos: Oscura es la habitación donde dormimos, do catalão Francesc Torres e Buena Memoria, do argentino Marcelo Brodsky. Ambos permitem considerar a intersecção proposta entre artístico e político por meio da fotografia como elemento plástico fundamental para potencializar reestruturações de identidades fraturadas, para investimentos de memória e também como testemunho ao reclamo daquele que em outro tempo fora visto como excesso.

Vivian Palma Braga é Mestre em Artes Visuais (História, Crítica e Teoria da Arte) pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), com pesquisa desenvolvida em torno da produção artística contemporânea versada sobre experiências de Estados de exceção no século XX e suas potências como espaços de elaboração de memórias, relação defendida como uma espécie de Arte da elaboração. Graduou-se como Licenciada e Bacharel em Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e estudou História da Arte e Arqueologia na Université Paris X Nanterre (França). Atualmente é doutoranda na ECA/USP com tese que considera aproximações entre poéticas artísticas contemporâneas voltadas às catástrofes do século XX, literatura de testemunho, autobiografia e elementos de arte conceitual. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em História, Crítica e Teoria da Arte e Arte-Educação. 


“Pergunta a cada ideia: serves a quem?” – esboços para uma concepção dialética da forma.
Gustavo Motta (UDESC, USP)
De que modo processo social e forma estética se articulam? A partir de uma pesquisa sobre o “programa ambiental” da arte brasileira dos anos 1960-70 e de seu desdobramento na noção de “participação do espectador”, que teve como foco a produção artística e intelectual de Antonio Dias e Hélio Oiticica, a comunicação procurará se questionar sobre a noção de forma estética objetiva (na expressão do crítico literário Roberto Schwarz) como fundamento para a pesquisa crítica em artes. Na esteira da tradição dialética da “crítica imanente” do objeto, que entende a forma como “conteúdo social decantado”, a forma estética objetiva poderia ser definida como o “realizar como forma estética” um ritmo geral da sociedade, operando uma redução estrutural de um dado social externo à forma artística (Antonio Candido). Sendo assim, em que termos a estrutura da “participação do espectador” pode ser considerada um eixo-guia, relativo ao “programa ambiental” da vanguarda brasileira, em torno do qual se articulou a produção artística do período? Tais questões deverão propor ainda novas problemáticas: em que sentido seria possível compreender a recuperação tardia, desde finais dos anos 1990, da estrutura da “participação” (desvinculada da cadeia de problemas estéticos e extra-estéticos propostos pelo “programa ambiental”) na assim chamada “arte contemporânea brasileira”? Ou, nos termos da pergunta brechtiana: a quem serve a “participação do espectador” nos dias de hoje?

Gustavo Motta é artista gráfico e historiador de arte. Doutorando do PPG em Artes Visuais na ECA-USP, São Paulo (área de concentração Teoria, Ensino e Aprendizagem da Arte, linha de pesquisa: História, Crítica e Teoria da Arte), com a pesquisa "Mal-estar na participação | arte contemporânea periférica na era da 'hegemonia às avessas'. Professor Substituto da área de História da Arte da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, Florianópolis. Mestre em Artes pelo PPGAV-ECA-USP, com investigação sobre os desenvolvimentos conceituais da obra do artista brasileiro Antonio Dias nos anos 60-70 a partir da noção de 'arte ambiental' de Hélio Oiticica, desenvolvida com auxílio de Bolsa CAPES. Possui graduação em Artes Plásticas pela Universidade de São Paulo (2008). Integra o Centro de Estudos Desmanche e Formação de Sistemas Simbólicos DESFORMAS (FFLCH/ECA-USP), onde organiza seminários, ciclos de filmes e grupos de estudos. É editor da revista Dazibao - crítica de arte. É colaborador da companhia II Trupe de Choque. É também participante do coletivo contradesenho de design e artes gráficas.


18 de Setembro - Depoimento: 16h00
Algunas reflexiones sobre la estética de lo verdadero en la imagen de prensa
Sandra Gamarra (Peru)
Desde a inauguração do Limac, um museu fictício cujo estatuto criou em 2002, a artista peruana Sandra Gamarra coloca em cheque a ideia de modernidade em seu país de origem. De lá para cá, soma uma vasto repertório de pinturas, fotografias, vídeos e instalações que, com a chancela desta suposta instituição, fundamentam uma imagem para a adesão peruana a uma movida de progresso “legada” pelos países colonialistas para todo o mundo. Na ausência de condições reais para a formulação de um projeto moderno compatível com o contexto local, devedor de uma herança pré-colombiana e de sua natureza ainda hoje rural, a adesão peruana a uma narrativa de modernidade resulta em uma falácia, ou em um pastiche, como faz Gamarra no seu museu, todo inventado a partir de padrões alheios.
O LiMAC possui identidade visual, site e projeto arquitetônico, mas não tem nem nunca terá uma estrutura física concreta. A ideia da artista, ao montá-lo, nas mais diferentes situações espaciais, é fazer seus displays sucumbirem às imposições (de ortogonalidade e neutralidade, por exemplo) dos edifícios modernos, onde muitas das instituições de arte estão alocadas. No entanto, à medida em que constitui pautas e abordagens para a linguagem de exposições museológicas e para a política de construção de acervos, o Limac também pode ser meio para subversão de entraves geopolíticos e contorno de carências do circuito da arte latino-americano. 
Na 29ª Bienal de São Paulo, por exemplo, o museu “possibilitou” a presença da série de pinturas October 18, 1977, realizada por Gerhard Richter e pertencente hoje à coleção do MoMA. Depois de o museu nova iorquino negar o empréstimo para a Fundação Bienal, coube à artista dedicar parte do seu tempo como participante do evento para pintar cópias das originais, a partir da observação de sua reprodução em um catálogo. As cópias foram expostas junto com o documento de recusa do MoMA, conformou-se assim uma ação do Limac dentro da Bienal.
Em 2014, Gamarra fez uma individual na Galeria Leme, em São Paulo, com o título O que nos fez modernos / imagens nítidas em ambientes úmidos. Nesta mostra, o tema da modernização peruana persiste e fundamenta trabalhos em pintura, colagem e vídeo, não mais assinados pelo Limac, mas agora pela própria artista. O “ambiente úmido” a que o título se refere ultrapassa a noção de clima e alcança algo que a artista identifica como “umidade social”, “um produto de contínua efervescência vinda de um nacionalismo imposto, dos vapores de um multiculturalismo lentamente criado e da permanente oxidação dos processos sociais”. A referência à série Homage to the Square, em que Josef Albers faz experimentos de cor em abstrações geométricas, é usada como base para interações pontuais de fotografias de violência. Se os campos de cor atraem ao longo, desde a chegada à galeria, as fotos chamam para perto e repelem, ou, ao menos, desafiam a fruição apaziguada do espectador.
A experiência na construção das metáforas visuais de O que nos faz modernos é o mote inicial para a fala que Gamarra apresentará no IX Seminário Arte, Cultura e Fotografia. O conjunto de obras expostas em São Paulo em 2014 rende evidências para uma análise sobre o modo de narração histórica levado a cabo pela artista, que concatena ambiguidade e posicionamento em seu ímpeto de retratação de disputas socioculturais e geopolíticas.  O percurso que a série traça da análise detalhada de estruturas de narração hegemônicas (como obras de arte canônicas) até o seu boicote público, a partir de táticas de contaminação, suspensão ou pastiche, abre caminhos para uma discussão sobre metodologias críticas fundadas pelas práticas artísticas.
(em espanhol)

Sandra Gamarra é artista e nasceu em Lima, Peru, em 1972. Atualmente vive e trabalha em Madri, Espanha. Estuda na Facultad de Arte de Cuenca (2002) e é mestre em Belas Artes pela Pontificia Universidad Católica del Peru (1997). Participou da 29ª Bienal de São Paulo e do 32ª Panorama de Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Criou no início dos anos 2000 o Limac – Lima Museum of Contemporary Art, museu fictício que assina alguns dos seus projetos como artista.


19 de Setembro - Comunicações: 13h30 às 15h30

Picture Ahead: a Kodak e a construção de um turista-fotógrafo
Lívia Afonso de Aquino (FAAP, Unicamp)
A partir da modernidade, a fotografia constitui-se em um dos principais artefatos na construção imagética do turismo. Presente em diversos aspectos dessa vida social ligada às viagens, ela se desenvolve nos estúdios, na difusão dos cartões-postais, vinculada às explorações e também por meio da produção do próprio turista. O objetivo é tratar da fotografia voltada ao amador e sua construção histórica naquilo que se relaciona ao turismo, refletindo sobre a criação de práticas sociais no contexto de sua massificação. Para tanto, considera-se que a experiência do turista e do fotógrafo amador encontram-se implicadas naquilo que consiste no uso do tempo livre, nas novas possibilidades de deslocamento e nos rituais de afirmação social baseados na demonstração de poder econômico e de conhecimento. Na esteira desses acontecimentos, analisa-se o papel da Eastman Kodak Company (1888-2012), empresa americana que se estabelece como uma das maiores ligadas à fotografia no mundo no decorrer do século XX. A Kodak, mais do que inventar produtos, institui um mercado para a fotografia popular e amadora com câmeras portáteis de fácil manuseio e com um modelo de negócio baseado no consumo de filmes e insumos. Ela torna-se peça chave no processo de formação de hábitos no interior da experiência com a fotografia no cotidiano, ajudando a transformar a câmera em uma companheira para todas as ocasiões, na vida familiar e também nas viagens. Avalia-se nesse contexto as estratégias da publicidade que se constituem como práticas de sociabilidade e visualidade centradas na fotografia como mercadoria. Ao desenhar um modelo de atuação junto aos seus funcionários, distribuidores e clientes, a Kodak segue um protocolo geral, quase normativo, no modo de atingir o fotógrafo amador com todos os seus produtos. Logo, ajuda a criar o desejo de mostrar onde, como e com quem se passa as férias, bem como o de ser fotografado e ser visto fotografando o mundo.

Lívia Afonso de Aquino é fotógrafa, professora e pesquisadora do campo da imagem com ênfase em cultura visual, subjetividade e memória, fotografia moderna e contemporânea. Doutora em Artes Visuais e Mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Bacharel em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é coordenadora e professora da Pós-graduação em Fotografia da FAAP em São Paulo. No período de 2000 a 2008 foi professora no Bacharelado e na Especialização em Fotografia do Centro Universitário SENAC em São Paulo. Em 2003 ganhou o Prêmio Porto Seguro Revelação com o ensaio 'De quando revelei minhas memórias', em 2012 foi selecionada para o III Prêmio Diário Contemporâneo com 'Como falam as fotografias'. Participou de exposições no Centro Cultural São Paulo, na Casa da Fotografia Fuji, no Centro Cultural da Caixa e no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, na Fototeca de Cuba, em Havana, e na mostra Descubrimientos no Festival PHotoEspaña, em Madri. É editora do blog Dobras Visuais, um espaço para o estudo do fotográfico e sua relação com a cultura visual, a arte e a literatura: www.dobrasvisuais.com.br.


Visões do “Mal” - Estudos visuais sobre fotografia pericial – acervo do Instituto de Criminalística em São Paulo, 1987-2007.
Cyra Maria de Araújo Souza (Unicamp)
As imagens de cunho pericial, como as que se encontram no Laboratório de Fotografia do Instituto de Criminalística em São Paulo (IC), são em geral entendidas como produto visual descartável. Para além de sua função ilustrativa nos laudos periciais (e de sua força de argumento como índice do acontecido), a fotografia de natureza criminal (cenas de acidentes, de crimes, corpo de delito, procedimentos de autópsia, enfim, prova visual/material em inquérito policial e processo criminal judiciário) parece, num primeiro momento, incapaz de ser pensada como passível de interpretações visuais outras, se não o de uma imagem que adere a seu referente. No âmbito acadêmico, por exemplo, a imagem forense quase sempre surge periférica e ilustrativa em estudos de caráter histórico/sociológico - quase sempre ligados ao tema da criminologia ou variações sobre a marginalidade urbana, um acessório apenas. Diferentemente, o estudo aqui colocado tenta elaborar sobre essas imagens - um acervo formado por negativos fotográficos de cenas de crimes (grupo “Sangue”, nome dado a casos de Homicídios, Suicídios, Encontro de Cadáver e Morte a Esclarecer pela Equipe Técnica do Instituto de Criminalística) acontecidos na região metropolitana de São Paulo no período de 1987 a 2007 - de maneira a evidenciá-las enquanto representação, símbolo que pode (e talvez deva), ser pensado em si mesmo.

Cyra Maria de Araújo Souza atua nas áreas de fotografia, artes visuais, história e crítica das artes e do cinema. Mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com trabalho Visões do Mal: estudos visuais sobre fotografia pericial. Acervo do Instituto de Criminalística em São Paulo, 1987 a 2007, apresentado em 2012, com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Graduada em Midialogia pela UNICAMP em 2008.


19 de Setembro - Conferência: 16h00
A Fotografia de Luiz Carlos Felizardo: Fotodocumentarismo no Brasil nos anos 1970 e 1980.
Charles Monteiro (PUCRS)
Luiz Carlos Felizardo (1949) é um fotografo brasileiro que inicia sua trajetória profissional nos anos 1970, com a realização de uma série de ensaios de documentação fotográfica sobre a arquitetura “vernacular” e a paisagem sul-rio-grandense. Em paralelo, escrevia e publicava uma seção semanal de duas páginas no jornal Folha da Manhã da Companhia Jornalística Caldas Júnior (1975-76), intitulada “Fotografia”, na qual procurava apresentar um panorama da fotografia contemporânea internacional e dos principais nomes da fotografia brasileira do período. Essa atividade de reflexão sobre a fotografia brasileira daria origem à publicação de dois livros, que reuniram ensaios escritos ao longo de duas décadas para jornais e revistas: Relógio de Ver (2010) e Imago (2010). Ele também se dirigiu seu olhar para o urbano e às várias camadas de tempo que se depositavam nos prédios e nos muros das ruas da cidade. Utilizando uma câmera de grande formato (4 x 5 polegadas), ele percorreu o interior do Rio Grande do Sul (Campanha e Serra) e o litoral de Santa Catarina fotografando paisagens e arquiteturas singulares. O tempo, a ruína e o silêncio estão entre os temas que inspiraram a sua fotografia nos anos 1970 e 1980. Sua formação inicial em arquitetura, seus trabalhos de documentação arquitetônica e a qualidade técnica de sua fotografia, o credenciaram a realizar vários trabalhos de documentação da restauração de prédios de significado histórico e cultural em Porto Alegre (Theatro São Pedro; Banco Nacional do Commercio/Santander Cultural, Usina do Gasômetro Centro Cultural) e São Paulo (Estação Júlio Prestes/Sala São Paulo). A fotografia de Felizardo pode ser relacionada à tradição da fotografia documentária americana, tanto nas obras de documentação arquitetônica vernacular (Walker Evans) quando em seus ensaios sobre a paisagem (Frederick Sommer e Paul Caponigro). Sua obra está presente em importantes coleções nacionais (Museu de Arte de São Paulo (Coleção MASP/Pirelli), Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Fundação Iochpe) e internacionais (Consejo Mexicano de Fotografia; Centro Wifredo Lam, Cuba; Museo de Arte Moderna de Buenos Aires; Center for Criative Photography, Estados Unidos). O objetivo desta conferência é pensar sobre a trajetória, os projetos, os temas e as filiações assumidas na fotografia de Luiz Carlos Felizardo e relacioná-las às tendências internacionais da fotografia documentária a partir da proposta de Olivier Lugon da existência de uma narrativa e uma pluralidade de práticas que podem ser filiadas a um “estilo documentário” na arte fotográfica, que foi passando por várias atualizações e releituras desde o final do século XIX até os anos 2000.

Charles MonteiroEstágio Sênior em História Cultural e Social da Arte na Université Paris 1 Panthéon - Sorbonne (2013-2014). Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2001) com bolsa sanduíche (1998-99) na Université Lumière (Lyon 2/ França). É Professor Adjunto (DE) no Departamento de História, ligado aos Programas de Pós-Graduação em História e em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde ministra seminários e orienta mestrado/doutorado. Foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em História entre agosto 2010 e dez 2012. Autor de três livros: Porto Alegre: Urbanização e Modernidade (EDIPUCRS, 1995); Porto Alegre e suas escritas: História e memórias da cidade (EDIPUCRS, 2006) e Breve História de Porto Alegre (Editora da Cidade, 2012); tendo organizado outros cinco livros; publicado 18 capítulos de livros no Brasil e um no exterior (Espanha); além de 21 artigos científicos completos publicados no Brasil (Revista Brasileira de História; ArtCultura; Estudos Ibero-Americanos; Anos 90, Oficina do Historiador etc.) e 2 exterior (Argentina, França). Além disso, concluiu 63 orientações de pesquisa (7 de doutorado, 26 de mestrado, 2 de especialização, 12 de iniciação científica e 15 de conclusão de bacharelado), participou de 168 bancas de defesa, 92 reuniões científicas (regionais, nacionais e internacionais) e organizou 28 eventos científicos (congressos internacionais, reuniões nacionais, encontros estaduais e simpósios temáticos dentro do Simpósio Nacional de História e Simpósio Nacional de História Cultural da ANPUH). Tem experiência na área de História, com ênfase nos seguintes temas: História, Fotografia e Cultura Visual; História e Memória; História e Literatura; História Urbana do Brasil nos séculos XIX e XX. É membro de associações de pesquisadores no Brasil (ANPUH) e no exterior (AHILA). Foi eleito Vice-presidente da ANPUH-RS (2010-2012). Atua como Consultor Ad hoc avaliando projetos de pesquisa para CNPq, CAPES, PUCRS, UFG, UNEB, USS. Atua como parecerista Ad hoc de periódicos na área de História como Nuevos Mundos Mundos Nuevos (EHESS/Paris); Confluenze Revista di Estudi Iberoamericani (U. Bologna); Revista Brasileira de História (ANPUH); Estudos Ibero-Americanos e Oficina do Historiador (PUCRS); Anais do Museu Paulista (USP); ArtCultura (UFU); Anos 90 e Aedos (UFRGS); Revista Brasileira de Ciências Sociais e História e HIstória (UNISINOS); Domínios da Imagem e Antíteses (UEL); Visualidades (UFG). Membro do Conselho Editorial da Revista ArtCultura (UFU) e Oficina do Historiador (PUC-RS). Membro do Conselho Consultivo da revista Mouseion (UNILASALLE) e da Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade (PUC-SP). Foi coordenador do GT Nacional de Cultura Visual, Imagem e História no biênio 2011-2013. Atualmente é vice-coordenador do Laboratório de Pesquisa em História da Imagem e do Som no PPG de História da PUCRS.